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A tênue convergência que começava a se delinear entre os cenários contemplados por mercado e Banco Central poderá ser novamente nublada pela empreitada do governo em tentar aliviar os juros cobrados dos empréstimos bancários. A cruzada contra o spread, que já teve como ação prática a redução dos juros cobrados pelos bancos públicos, tem por objetivo estimular o crédito. A dúvida é se as instituições privadas vão atender as exigências do governo e qual pode ser o efeito desse movimento sobre a economia, em especial no próximo ano, período para o qual a dispersão de projeções já é bastante relevante.

O fato de o governo frequentemente lançar mão de medidas que surpreendem o mercado ajuda a explicar a divergência entre a visão do BC e a do mercado observada nos últimos meses. Essas perspectivas começaram a se alinhar para 2012, como se o mercado estivesse se rendendo às indicações defendidas pelo BC. Mas os prognósticos para o ano que vem insistem em mostrar cenários distintos.

Para o ex-secretário do Tesouro Nacional e economista-chefe do Banco J.Safra, Carlos Kawall, as diferenças nas projeções podem ser explicadas, em parte, pelo fato de que os modelos econômicos exigem uma “calibragem”, ou seja, algumas variáveis podem receber peso diferente de cada analista. Neste momento, é o que acontece com a avaliação de dados relacionados a política fiscal, cálculo do juro real e impacto do mercado de crédito sobre a atividade.

Por causa da avaliação do efeito do mercado de crédito, Kawall trabalhava com um cenário mais brando em relação à evolução da atividade no próximo ano. “Pode ser que o crescimento esteja mais perto de 4% do que de 5%, porque entendo que a expansão do crédito começa a chegar perto do limite, dado o crescimento do endividamento das famílias e do custo elevado desse crédito já contraído.” Nesse sentido, a ação do governo em relação ao spread bancário pode tornar mais difícil ainda a previsão da evolução da atividade no futuro, diz.

Outro ponto relevante, acrescenta Kawall, é a grande dispersão de projeções sobre o nível do juro real neutro. Esse tema foi retomado pelo Banco Central na ata do Copom de janeiro. O fato de o juro neutro estar em queda, dizia o BC, graças a fatores estruturais, abriria espaço para cortes mais fortes da Selic sem pressão inflacionária. Só que a pesquisa que o BC fez junto ao mercado sobre o assunto mostrou grande dispersão das projeções. “Essa é uma variável fundamental, sobre a qual não há consenso. Isso leva a expectativas de inflação mais altas do mercado”, explica.

A divergência entre os cenários do mercado e do Banco Central teve seu ponto alto em agosto do ano passado, quando o mundo contemplado pelo BC parecia não ser o mesmo dos analistas. Naquele mês, o Copom surpreendeu boa parte dos analistas ao inverter a condução do juro básico, que deixou de ser elevado para cair 0,50 ponto percentual sem uma “parada técnica” no meio do caminho.

“Um tempo atrás havia uma discrepância maior entre o que o BC dizia e o que o mercado precificava. Agora está um pouco melhor, mas ainda não é o mesmo cenário”, diz Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria Integrada. “O que ajudou na maior convergência dos cenários foi o primeiro trimestre bom em termos de inflação, pelo comportamento das commodities em reais, e uma certa desaceleração em serviços, que ainda não sabemos se é pontual.” Segundo ela, a convergência se deu mais pela confirmação dos dados do passado (primeiro trimestre) do que pela crença de alívio inflacionário no futuro e, por isso, não se espera novas rodadas consistentes de melhora nas projeções de inflação no Focus.

A economista avalia que o mercado não colocará agora em suas contas a redução de juros anunciadas pelos bancos públicos, até por não saber como as instituições privadas irão reagir.

“O próprio BB e a Caixa, para não comprometerem toda sua análise de risco, podem reduzir juro para clientes bons e não aumentar a base. Não dá para saber exatamente o efeito e os analistas não vão colocar agora na conta.”

O economista da Serasa Experian, Luiz Rabi, concorda que, em relação a 2012, “o cenário de mercado foi se ajustando aos poucos ao que o BC estava visualizando” por conta da persistência das dificuldades externas e da desaceleração doméstica. “Mas há incertezas em relação a 2013. O mercado já está sinalizando possível aumento do juro no ano que vem e o discurso do governo, não do BC mas de outras esferas, não contempla ninguém falando em aumento de juro. Pode estar aí, talvez, a origem de uma possível divergência para 2013.”

O peso que o BC dá ao ambiente externo e, em especial, ao comportamento das commodities, é outro fator que faz diferença nos cenários, na avaliação do economista-chefe do Banco Pine, Marco Maciel. Ele lembra que o Banco Central já afirmou, em um box de um dos Relatórios de Inflação do ano passado, que os choques de produtos básicos tendem a ser mais relevantes para a formação de preços do que as expectativas de inflação e o hiato do produto.

Eduardo Yuki, economista da BNP Asset Management, avalia que a inflação acumulada em 12 meses pode até se aproximar mais do centro da meta, ficando próxima de 4,7%, em meados deste ano. Mas não vê o movimento como tendência. “Tudo passa pela discussão de quanto podemos crescer sem inflação. Vemos o PIB potencial em torno de 3,5%, mas temos observado uma série de medidas de estímulo, como o crédito dos bancos públicos e o BNDES voltando com mais força”, afirmou.

Todo esse contexto está na mira do mercado financeiro. Para os analistas, enquanto o BC mantiver no Relatório de Inflação projeção superior ao centro da meta para 2013 e, mesmo assim, cortar juros, não haverá alívio na discrepância dos cenários.
“O BC não pode ignorar as previsões do mercado para inflação”, alerta o economista-chefe do WestLB, Luciano Rostagno. O especialista fez um levantamento das projeções de inflação 12 meses à frente do mercado e do BC a partir de 2002. E observou que no período, houve vários momentos de dispersão. Mas não é possível determinar que um dos dois – mercado ou BC – tenha acertado mais vezes.

Fonte: Valor Econômico/ Lucinda Pinto/ Daniela Machado – 17/04/2012

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