A revisão de parte das medidas prudenciais já começou a surtir efeito nas concessões de crédito a pessoas físicas, pelo que se pode deduzir dos números de novembro apresentados ontem pelo Banco Central (BC). A média diária de concessões para o segmento subiu 4,4% ante outubro e o saldo cresceu, no mesmo período, 1% – para R$ 503,1 bilhões.
As modalidades que mais contribuíram para o forte desempenho foram o crédito pessoal (incluindo aí o consignado) e o financiamento de veículos, justamente as modalidades mais beneficiadas pelo desmonte parcial das regras macroprudenciais.
A média diária de concessões de crédito pessoal subiu 12,9% em novembro ante outubro, enquanto no financiamento de veículos a alta foi de 9,8%. Quando se analisa somente a carteira de crédito consignado dos 13 maiores bancos que operam com a modalidade, as concessões avançaram 19,4% em novembro na comparação com o mês anterior.
Os impactos da liberação de capital extra para os bancos emprestarem podem ainda ser verificados no custo dos financiamentos a pessoas físicas, que caiu significativamente, conforme observa Alessandra Ribeiro, economista da consultoria Tendências. A taxa média aplicada para o consumidor caiu de 47,1% ao ano, em outubro, para 44,7%, em novembro. O spread bancário (diferença entre o custo do banco para captar recursos e o juro cobrado do cliente) também recuou, em igual intervalo, de 36,6% para 34,6%.
“O desempenho do crédito para pessoas físicas vem mostrando resistência e surpreendendo”, diz Alessandra. Ela ressalta que o BC revisou o saldo da carteira de crédito a pessoas físicas (com recursos livres) de outubro em R$ 9 bilhões – que acabou saltando de R$ 629 bilhões para R$ 638 bilhões. Muda, portanto, a condição de que o mês de outubro representaria uma fraca base de comparação. “Essa correção indica que o efeito da greve bancária nas concessões de outubro pode não ter sido tão forte como se imaginava”, explica Alessandra.
No entanto, se os efeitos da greve não parecem tão evidentes no comportamento da concessão de crédito a pessoas físicas como um todo, quando se analisa modalidade por modalidade é observado, entre outubro e novembro, um movimento de migração entre as diferentes linhas.
Cheque especial e cartão de crédito, duas linhas emergenciais e automáticas que, em outubro, mês da greve, puxaram as concessões, em novembro permaneceram praticamente estáveis. A média diária de concessões de cheque especial cresceu apenas 0,1% em novembro ante outubro, e a de cartão, 0,3%.
Décio Carbonari, presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), acha que ainda é cedo para atribuir o aumento das concessões de crédito para veículos à revisão das medidas macroprudenciais. “Não dá para ignorá-las, mas também não dá para dizer que foram determinantes”, pondera. “O quanto isso foi importante e o quanto pode assegurar o crescimento futuro é difícil de quantificar. O aumento da demanda típica de fim de ano também colaborou. A venda de carros, por exemplo, cresceu 14,6% novembro ante outubro.
Fonte: Valor Econômico/Aline Lima – 22/12/2011